Relacionamentos Tóxicos


Mais do que por vontades, motivações ou desejos somos movidos por necessidades. Das mais básicas e simples como - dormir, tocar, comer e beber - às mais complexas - como as necessidades de realização e espirituais, por exemplo - são as necessidades de afeto, de pertença, valorização, segurança e reconhecimento - aquelas que mostram ser as mais fortes e as que mobilizam e desencadeiam a maioria dos nossos comportamentos.

São elas que nos levam a investir nos vários tipos de relacionamentos, mas também são elas que nos levam a concretizar grandes loucuras, que nos levam à vivência de grandes dores, desafios e a criar espaço para nos envolvermos também em relacionamentos tóxicos. Isto significa, que se nos mantemos em determinados relacionamentos é porque acreditamos que precisamos deles, e que sem eles não conseguimos satisfazer as nossas necessidades afetivas e relacionais.

Mas, valerá tudo para mantermos a satisfação destas necessidades afetivas, incluindo a presença em relacionamentos (com potencial) tóxicos?

Não, claro que não, até porque, o amor - nas suas várias formas -, embora nos traga sempre alguns desafios, desconfortos e ajustes, que nos podem tornar tóxicos em alguns momentos ou circunstâncias, é em si uma energia limpa que nos deve fazer crescer mais do que sofrer, e que nos deve faz sentir melhor do que pior. Então, se estamos em relações onde nos sentimos desvalorizados, criticados, culpados, presos, enganados, a perder identidade ou em sofrimento, porque continuamos nelas?

Serão as necessidades de afeto, segurança e pertença mais forte que tudo o resto?

Alain Botton, diz-nos que - não existimos a menos que haja alguém que nos possa ver existindo, e que o que dizemos não tem sentido até que alguém nos possa entender - isto significa que há em todos nós esta necessidade de sermos vistos, ouvidos e compreendidos, sendo que se estas necessidades não forem satisfeitas e organizadas na infância, que podemos correr o risco de andar uma vida inteira à procura de algo ou alguém que nos preencha, mostre ou confirme que somos afinal dignos de atenção, afeto, e por isso de amor. É, resumidamente isto, que nos abre as portas para nos podermos manter em relacionamentos tóxicos - quando sentimos que há alguém que nos preenche estes vazios e nos vai valorizando, mesmo que em alternância nos trate mal ou desequilibre.

Muitas vezes, procuramos nos relacionamentos, aquilo que as nossas figuras vinculativas nunca nos fizeram sentir ao longo da vida: amor, valor, beleza, segurança, confiança, suporte e atenção. Quando nos mantemos em relacionamentos que nos fazem sentir piores que melhores, onde nos sentimos maltratados, desrespeitados e/ou usados, mantemo-nos, acima de tudo, porque acreditamos que não temos valor suficiente, que sem aquela pessoa não somos ninguém, que sem perdemos conforto ou segurança, ou que mais ninguém nos quererá, sendo a solidão e o vazio as possíveis consequências. Há mais crenças associadas a este tipo de relacionamentos mas acredito que a maior parte são expressas desta forma. Significa isso que, nos mantemos e alimentamos relações tóxicas quando mesmo que a sofrer achamos que aquela relação é melhor do que qualquer vazio.

Quando numa relação, mais do que partilhar amor e um projeto de vida, nos movemos pela necessidade de valorização, pertença e atenção, corremos o risco de delegar para o outro a satisfação desta necessidade e de precisarmos daquela pessoa para nos sentirmos amados, protegidos e importantes. Não estamos necessariamente com o outro porque o amamos e ele nos ama a nós, mas porque, para além de precisarmos e dependermos desse colo e atenção, tememos sentimentos de solidão, abandono, perda e rejeição, caso ele se vá embora.

Acredito que é importante esclarecer que tóxicos, podemos ser todos nós em maior ou menor grau, isto porque, todos podemos sentir inveja, ciúme, manipular, mentir, oprimir, criticar com ou sem consciência disso. A diferença estará na intenção com que o fazermos, na intensidade, frequência e nas consequências, e de que forma influenciamos quem connosco vive e está. Esta é a diferença entre sermos todos imperfeitos nas nossas vivências humanos, ou de sermos tóxicos. Por outro lado, para haver este tipo de relacionamentos é preciso que haja espaço na relação para que este tipo de energia se manifeste, isto porque, se nos relacionamos com alguém que nos manipula por ter muitos ciúmes, por exemplo, só vamos ser manipulados se nos deixarmos levar por esse tipo de manipulação, e se não soubermos colocar os nossos limites. Os ciúmes e a manipulação só crescem e ganham estrutura dentro de um relacionamento quando os permitimos, alimentamos e deixamos que vivam na relação. Bem sabemos, o quanto é difícil dizer - “não gosto; incomoda-me; não quero; não permito” e tanto mais, quando amamos e queremos viver uma história de amor com aqueles de quem gostamos, conseguimos colocar limites com mais facilidade, sem temer a perda ou a rejeição. E é aqui que entra o desafio de nos mantermos a explorar o nosso equilíbrio e saúde ou resvalar para relações que nos destroem e nos colocam na linha do desequilíbrio e da dor.

Se sentes que estás num relacionamento tóxico deixo-te o convite para refletires sobre que tipo de necessidades estará esse relacionamento a preencher; questiona-te sobre o que te faz estar num contexto que te faz mais sofrer do que crescer e que limites precisas de semear ou desenvolver dentro de ti, para te libertares desta toxicidade.

Quando é a tua saúde mental e o teu equilíbrio que está em causa, nada poderá ser mais importante do que as escolhas que fazes para tua vida. Termino dizendo-te que, mais do que culpar o outro por tudo o que ele te faz, pergunta-te o que estás tu a fazer para permitires que te tratem assim. Pede ajuda, cuida de ti e responsabiliza-te pela vida que só à força das tuas ações pode mudar e recomeçar. Talvez estejas a querer que essa relação preencha um vazio que vem de trás, te dê o valor que não vês em ti ou que te dê a segurança que julgas não poder sozinho nutrir.

Diana

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