As boas pessoas dizem Não!


É frequente algumas pessoas dizerem-me que se sentem más pessoas porque tiveram de dizer um “Não posso”, “Não consigo”, porque fizeram o contrário do que a família, amigos ou colegas de trabalho esperavam, porque seguiram outros caminhos menos normativos e menos comuns, ou simplesmente porque foram verdadeiros e partilharam de forma honesta a sua forma de ver e percepcionar o mundo.

Acredito que temos de construir outros diálogos e histórias sociais sobre o que é ser-se boa pessoa e o que afinal significa essa outra construção.

Ser boa pessoa não é ser-se “bonzinho”, não é ser submisso, não é não ter opinião, não é dizer sempre sim, não é não se defender, e não é viver a vida em função do que os outros querem. Não é. Ser-se boa pessoa são muitas outras coisas, sendo que tudo o exposto anteriormente pode ser o reflexo de falta de amor, confiança, assertividade e saúde.

Acredito que ser-se boa pessoa é acima de tudo viver com respeito a si e ao próximo, é ter valores de respeito, paz, integridade, lealdade, união, empatia, amor, crescimento e liberdade pela diferença e pelas necessidades do outro. Ser-se boa pessoa é ajudar o próximo, sim, não significando isso, deixar de se ajudar a si mesmo, contribuindo para a uma comunidade e para um mundo mais sustentável e saudável. Ser-se boa pessoa é contribuir para um mundo mais equilibrado, justo, inclusivo e respeitador do próximo. É ajudar porque faz sentido e dá sentido à vida, porque se tem energia e propósito, e não porque se vive desesperado pela validação e reconhecimento exterior. Acredito profundamente que ser-se boa pessoa é ser-se honesto e verdadeiro consigo e com os outros, tendo a capacidade de reconhecer se se está a ajudar pelo outro, ou para não nos sentirmos más pessoas. Acredito que a ausência de saúde mental também é o reflexo de não se saber colocar limites e se andar esgotado e fora de si, em função desta ideia de ser-se “bonzinho” e dependentes e ávidos da atenção do outro.

Ser-se boa pessoa implica estarmos bem connosco, sabermos cuidar de nós como sabemos cuidar dos outros; é dizer NÃO ao outro quando não se consegue mais, para dizermos SIM a nós, ao nosso descanso, à necessidade de parar, à necessidade de cuidarmos das nossas vidas individuais e familiares. Ser-se boa pessoa não se resume a servir o próximo exclusivamente, mas a cuidarmos e servirmo-nos a nós, também. Acredito que quando paramos e assumimos que não vamos conseguir estar sempre disponíveis, reconhecendo que algumas das nossas dores e SINS são o reflexo da dependência emocional pelos outros, e da sua valorização, caminharemos para um mundo mais saudável, movidos verdadeiramente pelo amor ao outro e a nós.

E sim, as boas pessoas podem ter opiniões contrárias à maioria, podem defender-se sem atacar, podem escolher não responder ou responder assertivamente sem se tornarem submissas e podem fazer escolhas e percorrer caminhos sem a aprovação dos outros.

Para sermos boas pessoas precisamos de aprender a comunicar limites com assertividade e amor, precisamos de trabalhar os vínculos que temos com os outros, e de cuidar de quem somos para melhor contribuirmos para o mundo. O mundo é antes de mais, o reflexo de tudo o que fazemos em nós, e depois com os outros.

Diana

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