A vida tem tantos problemas...
Todos temos problemas, TODOS, embora nos pareça quase sempre que os problemas dos outros sejam mais pequenos do que os nossos! Sentimo-nos muitas vezes engolidos, sem energia, sem saber bem o que faz...
Diana .
Se olharmos ao longo do tempo vamos perceber que a nossa relação com o tempo talvez nunca tenha sido a mais saudável do ponto de vista mental e emocional. Oscilamos mais entre o que foi e o que será e mal sabemos o que é viver o agora. Nunca ninguém nos ensinou a viver o presente. Parece-nos que o presente é só uma conjugação verbal sobre o que estamos a pensar, o que foi e o que virá. Aprendemos muitas coisas em casa e na escola, importantes e necessárias, mas pouco ou nada nos ensinaram sobre viver de forma mais consciente. Pouco nos ensinaram a parar, a viver o momento, a sentir o prazer de uma respiração profunda, de contemplar alguma coisa, de sentir a vida ao segundo. E não nos ensinaram porque ainda são muito poucos os que assim conseguem viver, e ninguém consegue ensinar o que não experiência. Aprendemos com o que vemos, não com o que ouvimos. É curioso que, quando observamos a nossa infância, sentimos que desde cedo quisemos ser grandes. Brincávamos fingindo que éramos adultos, trabalhando como adultos e vestindo-nos como adultos. Quando crescemos, queremos voltar a viver na liberdade curiosa de ser criança, de forma mais descontraída, onde não há impossíveis e onde tudo é alegre e tem vida. E neste para a frente e para trás, pouco estamos no agora, no momento, no presente, no instante em que podemos, efetivamente, viver. E é aqui também que entramos em resistência ou na dificuldade imensa que precisamos de aceitar. Criamos resistência a alguma coisa quando nos fixamos naquilo que queríamos e não naquilo que estamos a viver. Criamos resistência quando nos zangamos, indignamos, aborrecemos ou entristecemos de forma mais prolongada porque alguma coisa não aconteceu como queríamos, ou quando acontece algo completamente ao lado das nossas expectativas. E é aqui que resistimos, neste momento de indignação com o momento presente, onde nos sentimos vítimas de uma realidade não escolhida, obrigados a viver uma coisa que não pedimos nem queríamos. Resistimos e não conseguimos sair daqui, dos «porquês», porquê a mim, porquê isto e porquê agora. Não digo que todos estes «porquês» não sejam necessários e não tenham a sua justificação. Fazem parte deste processo específico que estamos a viver, e de todos os outros. Diria que os «porquês» são o primeiro choque, o primeiro embate, a primeira dor. Afinal, não queríamos isto, não estava nos planos, não sonhámos com este cenário, não percebemos bem o que fazer, como fazer e o que vamos fazer com este inesperado acontecimento. Estamos adormecidos e anestesiados em grande escala. Esta é a primeira dor, a do choque, do confronto entre a expectativa e a realidade, entre o que queríamos e o que temos, entre a ideia de certeza e a certeza de uma incerteza, cheia de medos, angústias e receios. E agora? Aceitamos ou resistimos? Não é assim tão fácil porque, se sentíssemos que quando aceitamos se torna mais fácil criar os recursos, traçar os planos necessários para sair da situação de dor e desconforto, e que tudo flui com outra facilidade, então todos quereríamos passar de um estado de resistência para um estado de aceitação. No entanto, para além de o caminho ser extremamente pessoal – e, acima de tudo, um caminho de crescimento e de recomeço que exige foco, responsabilização, aprendizagens e a tomada de consciência de ideias, de padrões e de formas de resolução de problemas –, é um caminho de liderança por si só. É deixar de pensar no que queremos e assumir, com responsabilidade, o que estamos a viver e o que queremos fazer com isso a partir de agora, porque, independentemente da situação, só cada um, individualmente, poderá efetivamente fazer alguma coisa por si, signifique isso o que significar. Assim sendo, sair da resistência significa deixar de estar a investir energia mental e emocional no que foi e devia ter sido, no que nos aconteceu e no que podem os outros fazer por nós, para um investimento no que se pode fazer agora, nos recursos, nas alternativas e num recomeço. Porque, acima de tudo, aceitar é recomeçar. Em resistência ninguém recomeça. Com isto não estou a dizer que é fácil um caminho de aceitação e de recomeço. Não é, ainda para mais neste contexto mundial onde tudo mudou. Nunca estamos preparados para o que não contamos, mas todos nos podemos munir do que precisamos. E isto faz também parte da aceitação, este sentir que, apesar de não estarmos preparados e de o chão fugir-nos dos pés, temos dentro de nós as competências necessárias para novos desafios, sendo que estas se aprendem de um momento para outro. Mais do que não saber o que fazer, grande parte das vezes o maior entrave é acharmos que não sabemos como o fazer. Mas sabemos, e podemos sempre aprender. Aceitar também é isto – aprender – a fazer o que já sabíamos, mas de outra forma ou outra coisa que nunca tínhamos sequer pensado fazer. «O facto de amarmos uma coisa não significa que sejamos muito bons nela, a não ser que trabalhemos. Mesmo assim, o que quero salientar é que a maioria das pessoas é ainda pior naquilo que não gosta». Esta frase de Amy Chua faz-me sempre recordar que, de facto, até naquilo em que somos bons e nos sentimos capazes de fazer, temos muito trabalho a desenvolver. Quanto mais naquilo em que não somos, não sabemos e não queremos fazer. E é por isto que aceitar é tão penoso, trabalhoso e requer tanta energia. Aceitar significa olhar com coragem e determinação para o que temos agora e para o que precisamos de fazer para reconstruirmos um caminho e um projeto. E isto requer responsabilidade pelo que sentimos, temos e queremos, e energia para fazer o que é preciso, como é preciso, as vezes necessárias, das formas necessárias. Como vemos, é um caminho bem diferente da resistência. Resistir é não querer ver a seguir ou querer controlar o que não se consegue, é alimentar aquilo que devia ter sido e não foi, é estar no «não devia ter acontecido», no «porquê agora» ou no «porquê a mim». É manter a dor do que se perdeu por tempo indefinido e continuar em indignação por tudo aquilo que já não vai acontecer, pelo menos daquela forma e daquela maneira idealizada. Na realidade, este tempo de luto onde mergulhamos nas perdas, é previsto e necessário porque somos humanos e porque as dores têm o seu tempo de digestão. No entanto, não pode ser um tempo eterno que nos sufoque e nos retire a força total para um novo e urgente recomeço. Acima de tudo, a aceitação convida-nos a olhar para o agora e para o que podemos fazer neste momento. Mas para isso temos de ter energia, estar focados no que queremos, no que precisamos de fazer, nas ajudas que necessitamos de ter, no que carecemos de digerir. Agora. Só no agora vamos conseguir renascer, só no agora vamos conseguir olhar para os recursos necessários para nos reconstruirmos. E tudo isto precisa de grandes doses de energia, de energia de amor, de esperança, de resiliência, de determinação e de compaixão. Para além disso, a respiração é a forma mais consciente de nos trazer para o momento presente, na medida em que, quando respiramos e levamos a atenção para a respiração, deixamos de estar a pensar no que foi e no que virá, por poucos segundos que seja. Podemos passar algumas horas sem beber, mais algumas sem comer, mas se deixarmos de respirar, morreremos em poucos minutos. Com isto quero dizer que é também através da respiração que trabalhamos a aceitação, de si e do momento, e em que recarregamos as energias. A energia é o que faz o mundo viver, avançar e prosperar. Todos os estados de ansiedade e depressão são também consequência destes estados de resistência em que tememos o que vem ou estamos presos ao que foi. Eles trazem também alterações significavas à respiração. Quando está ansioso, usa apenas um terço ou menos da sua capacidade respiratória, daí a hiperventilação associada aos ataques de pânico e a agitação interior que sente quando está ansioso. Quando está triste por um longo período de tempo, podendo desenvolver um quadro depressivo, os seus níveis de energia são baixíssimos também, como consequência de uma respiração muito deficitária. Basta sentir o corpo para perceber que o nível de energia é muito reduzido. Diz-me como respiras, dir-te-ei como te sentes e, assim sendo, o convite que lhe deixo desde já, é que inclua um trabalho consciente de respiração na sua vida, que lhe permita incrementar mais energia no seu dia e nos seus processos de mudança. Este trabalho de consciência vai ajudá-lo neste caminho de aceitação e recomeço, porque quanto mais energia tiver, mais capaz será de criar alternativas necessárias, novos rumos e outras possibilidades de mudança. Para além da respiração permita-se a fazer coisas simples e aparentemente banais como fazer um puzzle, tricô, pintar, caminhar, desenhar, escrever, cantar, dançar sozinho livremente, fazer uma corografia, nadar, ler, escrever ou rabiscar. Coisas simples fazem toda a diferença quando a mente julga estar mais à frente ou mais atrás, a ruminar sobre o que já não consegue mudar ou que gostava de conseguir controlar, mas não controla. É na simplicidade que está a mudança. Experimente!
Diana
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