É tempo de Renascer!


O caos faz parte de qualquer processo criativo, de todos os recomeços, da mudança, da construção e de qualquer tipo de libertação. Só construímos algo de novo quando recomeçamos, e para recomeçarmos precisamos de nos desapegar dos modelos antigos e das estruturas que hoje já não se sustentam. É sempre o caos que precede a criação, que nos permite reconstruir o que já tínhamos e o que já éramos e poder ser de outra forma. E este caos nasce, quase sempre, dos momentos mais difíceis, onde somos obrigados a parar, onde nos sentimos fragmentados, partidos, quebrados, parados, paralisados. Dizem-nos outros momentos da História, e das nossas histórias, que são os contratempos que provocam muitas vezes avanços, e que nos permitem reconstruir a existência humana. Mas custa e faz doer. Só que não há outra forma de o fazer. Quer queiramos quer não, são também estes momentos de vida ou morte, de dor e de desprazer, que nos fortalecem o sistema imunitário emocional e que nos permitem dar outros saltos na vivência e na evolução de todos nós. É quando introduzimos um pouco de caos no sistema que o estimulamos e o fortalecemos. E é a partir daqui que devemos trilhar um caminho, do caos para a ordem, percebendo como nos queremos reconstruir, pedaço a pedaço, pedra a pedra, momento a momento, focados no que nos faz sentido, no sonho, no desejo, no merecimento, na necessidade de construção e de crescimento constante. É daqui que devemos partir e é isto também que não podemos negar. Negação não permite evolução. Precisamos de questionar a felicidade, as necessidades, as escolhas feitas até então e como estas nos faziam sentir, quem queremos ser para além do que temos sido, qual é a nossa essência, para dar continuidade ao mundo que avança e cresce todos os dias. Sabemos que apenas cerca de dez por cento dos níveis de felicidade são explicados pelas circunstâncias ou pelas situações da vida (Lyubomirsky, Sheldon e Schkade, 2005). Isto significa que não é da beleza, do casamento ou do divórcio que ela nasce e de onde ela vem, embora tudo isto a possa influenciar. Sabemos que a maior percentagem dos nossos estados de felicidade vem das escolhas que fazemos e dos comportamentos que temos. Se nos queremos reerguer do caos, então precisamos mesmo de olhar para o que nos faz sentir bem e deixar de procurar onde nasce o pote dourado da felicidade. Por muito que os fatores genéticos possam influenciar a forma como nos sentimos, e por muito difíceis que sejam as nossas circunstâncias, é nas nossas escolhas e através do nosso comportamento que podemos semear, nutrir e alimentar os nossos níveis de bem-estar e de felicidade. Mas falar em felicidade e bem-estar em tempos de crise até pode parecer estranho ou bizarro. Afinal, se estamos em pedaços, vindos do caos e a tentar perceber como podemos recomeçar. Como podemos falar em felicidade perante todos os desafios impostos? Conseguimos falar em felicidade quando sabemos que somos os maiores responsáveis pela sua construção, manutenção e alimento; quando sabemos que o maior promotor de saúde física, mental e emocional nasce, acima de tudo, de uma atitude e não de uma série de requisitos materiais e físicos. As pessoas mais felizes são aquelas que têm um sentido de vida, que olham para si, que confiam em si, que estimulam o seu sentido de humor mesmo nas dificuldades, que têm no ato de fazer exercício físico um estilo de vida e que têm uma força inabalável para resolverem os vários desafios que lhes vão surgindo. Resumindo, os que são mais resilientes. Sabemos, no entanto, que ter relacionamentos pessoais gratificantes também reforça a imunidade emocional e os nossos níveis de felicidade. Nos países onde as políticas têm por base a promoção da felicidade, os governos sabem bem que, quanto mais felizes forem os seus cidadãos, mais saúde física, mental e emocional vão ter, além de serem mais produtivos. Em consequência, vai tudo funcionar e fluir em função do crescimento e do bem-estar geral, pelo que todos terão a ganhar. E quando falo dos países mais felizes não falo nos países com maior poder de compra ou onde o consumo e o materialismo é vendido como a solução para todos os males. Falo, sim, em países que investem no tempo para trabalhar, amar e viver na natureza, com os outros e em comunidade. Precisamos de questionar como vivemos e como queremos continuar a viver. Recomeçamos sempre quando nos permitimos a fazê-lo, aconteça o que acontecer, venha o que vier, doa a quem doer. E no doa a quem doer, não está implícita força, maltrato ou qualquer tipo de arrogância. Está, sim, uma convicção profunda, uma garra sem fim e uma determinação inabalável. E no renascer está o amor pelo que somos, pelo que temos, pelos que amamos, pelos que beijamos mesmo que de longe, pelos que vivem eternamente no nosso coração. Só o amor nos faz renascer, porque só o amor nos faz crescer, em silêncio ou no barulho, na agitação ou na serenidade. Não precisamos de recomeçar com pressa, ninguém está atrasado nesta vida sem tempo certo, onde o tempo tem o tempo que lhe damos e o certo é o que decidimos fazer. Renascer e florescer, como faz a primavera, sem muito pensar mas com muita intenção de se fazer sentir pelo cheiro, pelos pássaros, pelas flores e pelo luar. Recomeçar por onde for possível, sem a perfeição imaginada, mas sim com a perfeição que já existe em tudo o que persiste e em tudo o quer fazer daqui para a frente. Não precisamos da sublimidade, apenas da intenção de um aperfeiçoamento contínuo, que nos esculpa, lime e embeleze. Porque só renascemos quando nos permitimos ver a beleza da vida que já vive dentro de cada um dos nossos corações, onde vivem forças inesgotáveis que nem imaginávamos ter. Precisamos de cabeças serenas para pensar, perceber o que temos de fazer, com inteligência e adaptação para continuarmos a sonhar ou aprendermos a fazê-lo, a rir e a recomeçar todos os dias, com paciência, e da melhor forma possível, saboreando tudo aquilo que de bom, dentro da crise, estamos a viver e a aprender. Precisamos de abrir o mundo às nossas emoções, essas que são tão temidas quando nos fazem sofrer e tão desejadas quando nos fazem sorrir. São elas que nos dão movimento, que nos incitam para a ação. Precisamos de as sentir, transformar e alimentar. Precisamos de um novo recomeço também sintonizados com elas e com aquilo que elas nos dão, de melhor e de pior. O pior mostra-nos o que queremos e o que não queremos, o melhor dá-nos força e garra para vivermos com mais alegria, tornando-nos mais resilientes para resolvermos as que nos fazem sentir pior. Para além disso, também as emoções que nos fazem sentir melhor nos tornam melhores pessoas, mais generosos, mais serenos, mais afáveis, mais compreensivos e com maior estima por nós e pelos outros. Acredito que este recomeço também precisa deste alimento emocional que não se fica só pela forma como nos sentimos, mas também como influenciamos os outros e as sementes que deixamos no mundo. No entanto, a beleza de qualquer emoção reside no facto de ser uma experiência individual, dependendo mais das nossas interpretações interiores do que das nossas condições externas. Significa isto que, neste caminho de reconstrução, mais do que perceber o que os outros sentem e como veem agora o mundo, é fundamental que cada um de nós faça o seu próprio caminho de desenvolvimento pessoal, porque este é único e subjetivo. O resultado de todos será também o resultado do que cada um faz com a sua vida neste momento de grande mudança. Precisamos assim de resiliência, esperança, sonho e muita paciência.

Diana

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