A vida tem tantos problemas...
Todos temos problemas, TODOS, embora nos pareça quase sempre que os problemas dos outros sejam mais pequenos do que os nossos! Sentimo-nos muitas vezes engolidos, sem energia, sem saber bem o que fazer, à espera daquele dia, semana ou mês, onde tudo se desenrola sem percalços ou imprevistos, e em que sigamos na estrada da vida com mais sorrisos do que com dores de cabeça. E acredito que todos nós, de alguma forma sentimos isto. Ou é alguma coisa connosco ou com a família, amigos, trabalho, no desporto, com os vizinhos, colegas, com o carro, com as contas por pagar e um sem fim de coisas constantes, que nos retiram energia e atrapalham.
Sentimo-nos engolidos pelo que se passa fora e pela forma dramática com que muitas vezes vivemos tudo isto dentro de nós. Na verdade, acredito que a maior parte dos problemas que nos perturbam constantemente são mais uma construção interna, do que algo mesmo destruidor que nos esmaga e retira vida. Por outro lado, quando sentimos que até está tudo bem até estranhamos a ausência de barulho, e achamos que dada a tranquilidade, algum temporal se levantará entretanto. Mas se a vida não vai deixar de ter problemas, como os poderemos viver com mais leveza e serenidade, coragem e simplicidade? Será que ter mais dinheiro seria a solução? Será que ter outro trabalho, família e viver noutro país resolveria tudo isto? Até pode resolver!
Acredito, no entanto, que nos podemos treinar para vermos a vida de uma forma simples. Dá imenso trabalho, bem imaginamos, mas dar-nos-á uma vida bem mais bonita. Por outro lado, vivemos num país com sol, natureza, com qualidade de vida, sem guerra e onde podemos trabalhar para vivermos com mais justiça e liberdade. Há quem possa dizer que tudo isto é questionável, mas na verdade, acredito que tudo isto é um imenso privilégio.
Acredito também que devemos começar pela premissa de que, se vamos ter sempre alguma coisa para resolver então podemos aprender a fazê-lo numa perspectiva de desafio e não com a pele dos desgraçados a quem tudo acontece. Quanta energia já perdemos em problemas que se revelaram simples de resolver? Imensa!! E isto porque partimos sempre da ideia de que tudo nos acontece, que não temos sorte nenhuma e que só queríamos ter a vida dos outros a quem parece nada afligir. Então, se problemas há sempre, podemos criar uma escala de problemas, onde colocamos aquilo que nos acontece sobre várias perspectivas, retirando os fatalismos de vida ou morte, como fazemos a maior parte das vezes. Isto porque, às vezes, a nossa capacidade cineasta faz-nos criar pequenos dramas onde na verdade até há alguma comédia!! Por outro lado, acredito que os únicos problemas que são realmente problemas são aqueles que envolvem a saúde e a doença, e quando a dignidade humana está comprometida. Tudo o resto, pode bem ser colocado em perspectiva, onde nos podemos treinar para parar, pensar em soluções e pedir ajuda. Esta ideia de que pedir ajuda faz parte da narrativa dos fracos, também é outra perspectiva que nos desumaniza e nos retira recursos, muita vezes. A maior parte dos problemas fica resolvido quando os verbalizamos com alguém e lhes pedimos uma luz ou orientação. Não somos mais confiantes por vivermos isolados sem os outros, e mais corajosos por resolvermos tudo sozinhos, antes pelo contrário.
Por outro lado, também acredito que é importante percebermos que tipo de necessidades temos e de questionarmos se realmente os problemas que criamos para as satisfazer nos provocam mais bem-estar ou mais doença. Somos educados a querer sempre mais e melhor, e até aqui, acredito que não há qualquer problema, a não ser quando o problema passa a ser querer viver com o que não podemos, não temos ou com o que na verdade não nos acrescenta aquilo que acreditamos que até poderia acrescentar: um carro novo, uma casa maior, mais roupa, melhores dispositivos eletrónicos, mais cartões de crédito, férias em sítios bonitos… De alguma forma, todos queremos o melhor e sonhar com tudo isto, para alguns de nós, pode acrescentar valor à vida, no entanto, também acredito que criamos muitas vezes grandes problemas quando queremos criar uma vida que não somos capazes de suportar, pagar e viver. Conforto, segurança e beleza faz parte dos sonhos e necessidades de todos os nós, mas acredito que somos muitas vezes iludidos com uma ideia de uma vida sem problemas quando temos parte de tudo isto. Ouço algumas vezes a ideia de que se viajasse mais teria menos problemas: “se tivesse mais isto ou aquilo sentiria-me melhor, se vestisse de outra forma sentia-me mais corajoso, se tivesse uma relação de amor resolveria todos os meus problemas”, e por aí fora… Tudo isto pode dar-nos experiências que momentaneamente nos podem fazer sentir bem, mas na verdade nenhuma viagem, relação, estatuto, carro ou casa nos vai dar aquilo que só nós dentro de nós, poderemos trabalhar e transformar.
A forma leve, simples e descomplicada como podemos viver é um resultado do trabalho interno que podemos realizar todos os dias através do que vamos vivendo e reconstruindo dentro de nós. E sim, o dinheiro poderá abrir outras oportunidades e resolver alguns dos nossos problemas, mas não define a forma como caminhos na vida nem como nos vamos sentir nela. Será que não estaremos nós a construir uma vida que nos dá na verdade mais problemas do que soluções? Talvez!! Não precisaremos então de questionarmos quais são mesmos os nossos problemas e o que estamos disponíveis para resolver dentro de nós, para os ultrapassar? Acredito que sim!
Problemas haverá sempre, começa a desenhar dentro de ti outras formas de os olhar e transformar.
Diana