Mais ansiosos, mais esgotados e cada vez com menos dinheiro...


Assim está um país, assim estamos quase todos nós, a viver meses e anos onde sentimos que os mais nos tornam cada vez menos - mais ansiosos, mais tristes, mais sozinhos, mais esgotados, mais stressados, mais desesperados e mais pessimistas, sendo que todos eles, nos fazem sentir menos - menos capazes, menos saudáveis, menos esperançosos e menos pessoas. Menos pessoas com valor, com dignidade, com tempo, com sentimentos, com dificuldades, com forças e virtudes, transformados em máquinas, onde a palavra de ordem é quase exclusivamente produzir ou trabalhar, pagar contas, esperar pelas férias e investir em prazeres rápidos como forma de aliviar toda esta angústia existencial.

Nunca tivemos uma sociedade tão qualificada e tão infeliz. Um sociedade programada para Ser Pessoa também alicerçada em Ter uma profissão, que hoje tem um limite infinito de horas de trabalho. Só trabalhamos, não existimos em quase nada mais. Nunca antes houve tantos suicídios, nunca se falou tanto em burnout, numa antes se tomou tantos antidepressivos e ansioliticos. Nunca a palavra parar foi tão precisa e tão negligenciada. Se não se produz, não se vive, se não se trabalha pela noite dentro, não se estará a ser produtivo. E se tudo isto não bastasse, ao ligar-se a televisão ou ao ler-se as chamadas gordas dos jornais, 2023 será o golpe fatal. Estudámos para ter uma melhor qualidade de vida e nunca estivemos tanto sem ela. Esgotados, sem espaço para esticar mais, com elevados níveis de ansiedade e sem dinheiro. Sem tempo para parar, questionar e aprofundar, os vários conceitos de saúde, com a perspetiva de se ficar sem nada, num país onde se paga tanto por tão pouco daquilo que sentimos precisar. É isto que vejo todos os dias, mais perto ou mais longe e que me faz questionar onde iremos parar.

Longe de dogmas, fórmulas milagrosas e positivismos tóxicos, onde sabemos que nem ficou nem vai ficar tudo bem, torna-se mais urgente (do que qualquer outra urgência), num mundo onde tem de estar tudo pronto para ontem, Parar, Refletir e Mudar. Sim, mudar! Se é certo que não podemos mudar hoje as políticas que nos governam (ou podemos?), e se há uma dimensão gigante das nossas vidas que não controlamos e que não dependem diretamente de nós, - entre elas, a guerra, as taxas, os juros, os conteúdos da comunicação social, as perdas, as pandemia, os números de pobreza e desemprego, e tanto mais - há uma dimensão igualmente grande que depende de nós, e onde de facto conseguimos influenciar, focar e mudar. E se é certo e sabido, que atravessamos uns dos momentos mais marcantes, pela negativa, da nossa história, também sabemos que há dimensões amplamente estudadas que nos ajudam a sair do buraco onde nos encontramos e nos encorajam a promover a saúde, a incrementar vida e energia para sairmos das crises, e que nos ajudam a prosperar e a criar alternativas mais sustentáveis e saudáveis. Isto significa que cada um de nós, pode e tem ao seu alcance, estratégias a utilizar para uma vida melhor. Neste sentido, e envolvida na perspetiva de achar que neste momento todos podemos e devemos ajudar, deixo algumas pequenas grandes sugestões, que a serem implementadas melhorarão, sem qualquer sombra de dúvida, a tua vida e a forma como te sentes.

  1. Somos o país da União Europeia onde se pratica menos exercício fisico por semana, ou melhor, somos os penúltimos da lista, no que toca à pratica de alguma atividade física (https://ec.europa.eu/eurostat/web/products-eurostat-news/-/ddn-20190328-1). Sabemos que a ligação entre a prática de alguma atividade física e a promoção da saúde mental, com a diminuição de sintomas de ansiedade, depressão e regulador de sono, é enorme, significando isto, que estamos a fazer muito pouco por nós, e que temos nesta prática uma excelente estratégia de bem-estar. Sem desculpas, 30 minutos a caminhar, por exemplo, não tem qualquer custo, é simples e tem resultados rápidos e práticos. Só precisas de ter umas spatilhas e rua. De motivação não precisas. Quando estamos mal só precisamos de ir, mesmo com zero vontade. Precisas de resiliência, responsabilidade e perseverança, a disciplina e a motivação vêm depois.

  2. Sempre soubemos que dormir é meio sustento e que é nele, no sono, que começa qualquer dimensão da nossa saúde. Sabemos que, 70 por cento dos portugueses vai para a cama depois da meia-noite, incluindo crianças e adolescentes e que dorme pouco e mal. Se dormir é meio sustento então andamos todos ausentes do bem mais precioso que podemos alimentar e ter, e que tão caro nos pode custar. Dos telemóveis no quarto, às televisões, às rotinas tardias e fora de horas, somos uma sociedade que destrata o sono e a necessidade de descansar. O que fazer então? É urgente adoptar uma rotina de sono de qualidade, com um quarto livre de estímulos e aparelhos electrónicos. Sem dormir, não há solução para a crise que atravessamos. (https://www.noticiasmagazine.pt/2018/a-guerra-dos-sonos/bem-estar/10840/3).

  3. Precisamos de silêncio. Sabemos que o barulho e o excesso de estímulos auditivos e visuais promovem a produção de hormonas de stress (epinefrina e norepinefrina) que duplicam em contextos com barulho, provocando vários desequilíbrios fisiológicos com impactos muito significativos ao nível da saúde em geral. Sabemos que quanto mais expostos ao ruído (visual e auditivo), mais irritados nos vamos sentir. Ter momentos de silêncio, cultivá-los nos vários contextos (escola, trabalho e casa) e colocá-lo como um bem essencial, não tem qualquer custo e vai dar-te muito mais vida e energia para procurares soluções para os diversos desafios e problemas.

  4. A natureza - se os seres humanos precisam da civilização também é certo que precisam da natureza, sendo que é o contacto frequente com a natureza que nos torna mais aptos à civilização. No mundo do caos, da pressa, onde deixamos de olhar e escutar o outro e a nós, é urgente voltarmos a conectarmos com a nossa essência. Sabemos que em contacto com a natureza este processo para além de ser mais fácil, ainda consegue gerar bem-estar a curto, médio e longo prazo. O cheiro, a visão e o olfacto ficam alterados quando estamos mergulhados na natureza, e sabemos que conseguem ser ativados vários centros de prazer e bem-estar que nos ajudam a relaxar, revigorar e gerar mais energia. E sim, a natureza é barata, livre, de todos e para todos.

  5. O que é de facto importante? Qualquer tipo de crise permite-nos reposicionar e clarificar sobre o que é de facto importante e (im)prescindível. É esta a altura para percebermos de facto o que é importante, para onde corremos, porque não paramos, para onde queremos ir, o que podemos destralhar, questionar e mudar. Se não são as crises geradoras de mudanças sociais e individuais profundas, do que precisaremos então?

  6. Conversar e escrever é fundamental para bem viver. Falar do que sentimos, dos medos e angústias, do que nos dói e destrói, é meio caminho andado para nos sentirmos mais leves. Temos a falsa ideia de que falar sobre o que nos faz sofrer é fraqueza e motivo para nos verem como menos capazes. No entanto, sabemos que é exatemnte o contrário. Só o ato de criar um dialogo nos permite reorganizar a experiência e aliviar a tensão interior. E se falar nos faz tão bem, escrever, às vezes também o faz, e isto porque, podemos falar “de qualquer maneira” mas não escremos de qualquer maneira, o que significa que, quando escrevemos, para além de nos sentirmos aliviados também nos vamos sentir mais organizados, porque para o fazer tivemos de pensar, identificar, estruturar e escrever o que queríamos dizer.

Em tempos tão difíceis e exigente, precisamos de nos mantermos focados no que depende de nós e em manter a saúde mental como a prioridade essencial. Assim, e de forma resumida, deixo-te estas seis simples sugestões: mexe-te pelo menos 30 minutos, cuida bem do teu sono, promove momentos de silêncio, procura a natureza, conversa e escreve, e pára para pensar e refletir no que de facto é importante, e de tudo aquilo que podes destralhar que nada te acrescenta a não ser stress. Simplifica, às vezes, o mais importante vive dentro ou perto de ti, e não tendo qualquer custo, tem um valor incalculável.

Acredito, que esta é a altura certa para cada um, dentro da sua missão dar a sua contribuição. Esta foi a minha, e tu, que sugestão nos podes deixar?

Diana

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